A parte mais importante dessa palestra
é considerar os problemas
que são criados, que são desencadeados,
por esse multilateralismo.
Com o multilateralismo, temos realmente
novas relações internacionais.
Essas novas relações internacionais
implicam importantes desafios
para a ordem tradicional,
para o conceito tradicional
das relações internacionais.
Estamos preparados para resolver esses dilemas?
Distinguirei quatro dilemas, quatro problemas,
que estão emergindo do multilateralismo
e desse desenvolvimento multilateral do mundo.
O primeiro é o problema da inclusão,
isto é,
sempre houve uma espécie de relutância
em incluir todos os Estados
nessas instituições multilaterais.
Depois da Primeira Guerra Mundial,
as nações derrotadas não foram admitidas
na Liga das Nações.
A Alemanha, por exemplo, não foi admitida
e só foi incluída em 1926,
ou seja, 7 anos depois da criação
da Liga das Nações.
Mas depois da Segunda Guerra Mundial,
Alemanha, Itália, Japão,
ou seja, todas as nações derrotadas
na Segunda Guerra Mundial, não foram admitidas,
sendo assim, pode-se dizer que esse mundo multilateral
é um mundo estranhamente inclusivo.
Mas e os tão importantes Estados
na arena internacional, como a China,
a China de Pequim, que foi admitida
ao invés de Taiwan, apenas em 1971?
O Vietnã foi admitido apenas em 1977,
o que quer dizer que depois da Guerra do Vietnã
e durante a Guerra do Vietnã,
que foi uma das principais guerras
do mundo pós-1945,
o Vietnã não era membro das Nações Unidas.
Os Coreanos foram admitidos somente em 1991.
Agora, e a Palestina,
que não é membro das Nações Unidas?
E Taiwan, que não é mais
membro das Nações Unidas?
E esses Estados não reconhecidos
que, entretanto, são governos ativos
na ordem internacional,
como o Kosovo, como a Somalilândia, como a Puntlândia,
todos esses Estados não reconhecidos, e outros,
que não são membros das Nações Unidas?
E, no entanto, dentro dessas partes do mundo,
há um risco real de tensões internacionais
e conflitos internacionais,
sendo assim, a ONU não está autorizada
a moderar os principais conflitos do mundo,
porque alguns dos protagonistas principais
não são admitidos como membros
das Nações Unidas.
Esse é um primeiro desafio.
O segundo desafio seria: o multilateralismo é
apenas um multilateralismo interestatal?
Podemos considerar, agora, no terceiro milênio,
no começo do século XXI,
que apenas Estados são atores
da arena internacional?
Atores não estatais
devem ser incluídos nas negociações,
nas deliberações, no processo global,
e, se eles não estiverem lá, há um forte risco
de uma capacidade limitada das Nações Unidas
de resolver os problemas.
É por isso que o grande Secretário-Geral Kofi Annan
considera que, antes de tudo,
o novo multilateralismo deve ser
um multilateralismo social
incluindo os principais atores não estatais,