[MÚSICA] [MÚSICA] Compreender os determinantes da taxa nominal de câmbio, ou seja, compreender o mercado de câmbio, se tornou cada vez mais relevante a partir da década de 70, como já também comentamos aqui, com o fim dos acordos de Bretton Woods e a flexibilização das taxas de câmbio entre os países desenvolvidos no sistema de pagamentos internacional. E, eventualmente, é sempre possível para país, principalmente país desenvolvimento ou país muito aberto, ou país que tenha problemas com a sua ancoragem nominal e esteja processo ou vivendo processos de inflação ou hiperinflação, é sempre possível que esse país adote, unilateralmente, uma taxa nominal de câmbio fixa, ou seja, regime de câmbio fixo e, portanto, abra mão de realizar política monetária como vimos no módulo anterior. Porém, a partir dos anos 70, a compreensão de quais são os determinantes principais do comportamento do câmbio se torna cada vez mais relevante por conta da flexibilidade dos regimes cambiais e portanto da flexibilidade da relação entre as principais moedas do mundo e o que, obviamente, afeta a decisão dos agentes geral. Então, se voltarmos pouquinho na história do pensamento macroeconômico, nós vamos observar que as questões de economia aberta passaram a ser tratadas no contexto dos modelos macroeconômicos a partir dos anos 50, principalmente com as contribuições de Meade, Mundell e Fleming, e que produzem instrumental básico, bastante utilizado ainda hoje e ensinado graduações, que é conhecido como modelo IS-LM-BP. Uma referência pra quem eventualmente já tenha tido algum contato com esse tipo de teoria. Porém, com o desenvolvimento da teoria macro e com os acontecimentos históricos, principalmente marcados pelo fim dos acordos de Bretton Woods, novas abordagens foram sendo trazidas para a teoria, relação à compreensão dos determinantes de câmbio. Basicamente o que nós observamos hoje na literatura é, digamos, uma separação inicial entre a busca da compreensão desses determinantes no longo prazo e no curto prazo, o que vai conectar o longo prazo com o curto prazo são as expectativas dos agentes. Eu vou falar pouco sobre isso e a nossa ênfase aqui será na compreensão dos determinantes de curto prazo, mesmo porque a nossa compreensão sobre esses determinantes no longo prazo ainda carece de evidências empíricas, principalmente quando se trata de país desenvolvimento ou país emergente, eu já vou explicar pouquinho melhor sobre o que estamos falando. A perspectiva de longo prazo, ela é pautada uma teoria que nós chamamos de teoria da paridade do poder de compra. Essa teoria parte de princípio muito antigo teoria econômica, os primeiros princípios de teoria econômica, já presente nos clássicos da economia, que é a Lei do Preço Único, que significa simplesmente o seguinte, se dois bens são iguais, são homogêneos, não há nenhum tipo de barreiras ou de custos de transação entre mercados que transacionam esses dois bens, mercados diferentes que estão comprando e vendendo esse mesmo bem, e se não há esses custos de transação ou barreiras à comercialização, o que acontece é que ao longo do tempo há uma tendência para que os preços nesses dois mercados se igualem. Então quando nós observamos excesso de demanda desses mercados é natural que a oferta que está sendo realizada no outro mercado se direcione para o mercado excesso de demanda, porque o mercado excesso de demanda produz preço mais elevado. Então essa relação entre esses dois mercados sem nenhum tipo de barreira, sem nenhum tipo de custo de transação, e tendo bens homogêneos, levaria ao resultado da Lei do Preço Único, que é de que esses bens teriam o mesmo preço nesses dois mercados. Princípio bastante simples e que tentou-se aplicar no contexto da determinação da taxa de câmbio no longo prazo. Que sentido? No seguinte sentido, se os países comercializam bens semelhantes ou cestas de bens parecidos e há pouquíssimas barreiras ou nenhuma barreira ao comércio internacional, os custos de transação não são impeditivos, são baixos, então haveria uma tendência para que esses preços se igualassem ao longo do tempo. Acontece que quando nós falamos preços relativos entre países distintos, nós estamos falando preços cotados moedas distintas, então nós não podemos simplesmente comparar os preços nos Estados Unidos, por exemplo, com os preços no Brasil, porque os preços nos Estados Unidos estão cotados dólares e os preços no Brasil estão cotados reais. Então essa comparação não pode ser direta. Eu, necessariamente, tenho que transformar o preço dólar preço reais ou o preço reais preço dólar. E o que eu uso pra fazer isso? O preço relativo das moedas, ou seja, o preço de uma unidade de uma moeda estrangeira que é a taxa nominal de câmbio. Então, normalmente, pra fazer a comparação entre preços países distintos, nós necessitamos transformar desses preços preços na moeda do outro país, e o que faz isso é exatamente a taxa nominal de câmbio. É nesse sentido que, uma vez que haja essa tendência para que os preços se equiparem no longo prazo, é possível observar esta relação de preços medidos uma mesma moeda como uma possível forma de compreender a determinação da taxa nominal de câmbio no futuro. Essa relação de preços, quando convertida para uma mesma moeda se torna portanto preço relativo, preço real, e é o que nós denominamos na literatura de taxa de câmbio real. Então vamos ter aqui uma diferença importante entre a taxa de câmbio nominal que é o preço de ativo financeiro, que o preço de uma moeda internacional, e a taxa de câmbio real que vai medir o preço relativo, ou seja, a relação entre o nível geral de preços de país e o nível geral de preços de outro país convertidos para uma mesma moeda por meio da taxa de câmbio nominal. Esta medida, taxa de câmbio real pela paridade do poder de compra, ela deveria ser relativamente estável ao longo do tempo, e ela tenderia para se os países realmente transacionassem cestas de bens e serviços muito parecidas, ou seja, para basearmo-nos na Lei do Preço Único é necessário que haja homogeneidade entre bens e serviços que estejam sendo comercializados. Obviamente isso não acontece no mundo real. As cestas de bens produzidas países diferentes são relativamente diferentes, existe núcleo principal, principalmente as commodities que tem bastante padronização nos mercados internacionais e portanto pouca variação. Mas se nós pensarmos na gama de bens e serviços que são comprados e vendidos entre os países dificilmente a gente vai encontrar muita homogeneidade nessas cestas. Então aí já há uma falha no princípio da Lei do Preço Único e que se reflete como uma falha de compreensão da taxa nominal de câmbio por meio da paridade do poder de compra. Então a não existência dessa homogeneidade, os bens que são comercializáveis são relativamente diferentes, isso já produz diferencial de preços e portanto, dificilmente a taxa real de câmbio se estabilize torno de. Mas ela se estabiliza torno de certo nível, ou seja, o resultado mais importante da paridade do poder de compra na verdade é que a taxa real de câmbio se estabiliza ao longo do tempo certo nível, mostrando a competitividade relativa dos países, e refletindo também o grau de barreiras internacionais ao comércio, sejam unilaterais ou não, e também os custos de transação desse comércio internacional, além obviamente das preferências dos agentes, ou seja, se os agentes domésticos, os brasileiros, tem uma preferência explícita por carros americanos, então isso vai afetar as nossas relações comerciais e vai afetar a formação da nossa taxa real de câmbio no longo prazo. Mas basicamente, o elemento fundamental que eu gostaria de ressaltar é o significado da taxa real de câmbio, enquanto uma medida de competitividade entre países. Então, quando nós olhamos para a nossa capacidade de ganhar ou de perder fatias do comércio internacional basicamente nós estamos buscando entender qual é a relação de competitividade dos nossos produtos com os produtos internacionais. E essa competitividade, ela é produzida a partir da nossa condição de produção de bens e serviços, ou seja, ela basicamente depende da produtividade dos fatores de produção. Assim, do ponto de vista de ganhos ou perdas de parcelas de comércio internacional, é muito importante que a gente preste atenção na relação de competitividade entre os países e essa competitividade está expressa, ou representa basicamente a produtividade dos fatores de produção de país e de outro. Então é importante que a gente observe que no longo prazo, termos de competitividade real, os fatores mais relevantes estão associados ao processo de produção de país. Qual é o nível tecnológico que ele utiliza no seu processo de produção? Qual é a qualificação da mão de obra? Qual é a qualificação ou o desenvolvimento tecnológico do capital, ou seja a produtividade marginal de cada dos fatores de produção, contribuindo para produzir produtos melhores, com mais tecnologia e portanto com mais condições de competir com os diversos produtos oferecidos pelos outros países nos mercados internacionais. Deste ponto de vista, se nós olharmos para esta relação e pensarmos que ela deve produzir uma relação de competitividade, taxa real de câmbio relativamente estável no longo prazo nós podemos a partir daí, utilizar essa estabilidade como forma de entender o comportamento da taxa nominal de câmbio. Vou deixar pouco mais de leitura para vocês sobre esse tema, nas nossas leituras complementares, porém, também já adianto que esta perspectiva de compreensão dos determinantes da taxa de câmbio nominal ela tem se mostrado uma boa maneira de nos dar indicações sobre o comportamento do câmbio nominal no longo prazo, principalmente quando se tratam de relações entre países muito mais parecidos, países desenvolvidos, países que tenham grau parecido, grau semelhante de desenvolvimento tecnológico, de capital humano, institucional, e assim por diante. E a literatura tem mostrado isso, a literatura empírica no caso países subdesenvolvidos ou desenvolvimento, especificamente no caso brasileiro, a literatura é bastante controversa, há uma parte dela que indica que a paridade do poder de compra possa ser uma boa indicação da nossa formação da taxa de câmbio no longo prazo, porém, considerando-se aí diferenciais de tecnologia, e uma boa parte da literatura aponta no sentido contrário, de que geral a taxa de câmbio nominal no futuro não encontra na teoria da paridade do poder de compra uma boa fonte de explicação. Então, digamos que ainda não temos uma compreensão muito clara, não temos consenso na literatura empírica, principalmente, sobre a validade da paridade do poder de compra como indicador do câmbio no longo prazo. Porém, no curto prazo a nossa compreensão é pouquinho mais aguçada, ou seja, a gente consegue entender pouco mais, explicar pouco melhor o comportamento, principalmente a flutuação, a alta volatilidade que o câmbio apresenta no curto prazo, entendendo que basicamente, no curto prazo, os principais determinantes da taxa nominal de câmbio são associados a decisões financeiras, e não a decisões comerciais, então é como se nós tivéssemos pensando que no longo prazo os aspectos comerciais, a produtividade marginal, a competitividade, as barreiras ao comércio, os custos de transação, são os elementos mais importantes para a compreensão da taxa nominal de câmbio, e no curto prazo os principais elementos estão associados à decisão de alocação de portfólio entre os agentes domésticos e os agentes internacionais. Basicamente, estamos dizendo que o fluxo de capitais financeiro geral, ele toma proporção muito mais relevante na determinação da demanda e da oferta de dólares no mercado cambial, do que propriamente os fluxos comerciais, que são mais estáveis, não mudam com tanta frequência, e que produzem fluxos tanto de demanda para importação quanto de oferta de moeda estrangeira para as exportações, relativamente mais estáveis e que estão muito mais ligados com o comportamento da renda internacional, do PIB dos outros países, e do PIB doméstico, do que propriamente com o preço da moeda estrangeira. Então, essa divisão que eu mencionei no início que nós temos na nossa compreensão entre os determinantes de do câmbio nominal no longo prazo e no curto prazo. Porém, expectativas sobre o comportamento do longo prazo podem afetar o comportamento do curto prazo, como nós vamos ver seguida por meio da teoria da paridade de juros descoberta. A paridade de juros da descoberto ou descoberta é a expressão ou a síntese da principal relação que leva os agentes a tomarem uma decisão de comprar ou vender moedas estrangeiras. E eu já vou explicar qual é a origem desta expressão, que é a comparação entre as taxas de juros domésticas e internacionais, medidas numa mesma moeda. Para a gente começar a entender esse processo, é interessante que a gente resgate pouco da teoria do portfólio, que vai ser a nossa base para compreensão da tomada de decisão dos agentes relação à investir os seus recursos domésticamente, ou seja, sejam agentes domésticos ou internacionais, ou investir esses recursos nos mercados financeiros internacionais. Quando nós falamos isso nós estamos pensando, basicamente, alocação de carteira, alocação de portfólio, que os agentes tem a disposição não só os ativos do mercado financeiro ou dos mercados financeiros domésticos, mas também podem escolher entre mercados domésticos e mercados internacionais, mercados financeiros internacionais. [MÚSICA]