[MÚSICA] [MÚSICA] Para definirmos essas escolhas [MÚSICA] é necessário que nós passemos de maneira também rápida e relativamente superficial sobre uma discussão muito importante a respeito do que seja a moeda na economia.O que é a moeda na economia? Qual é o seu papel? E como que a escolha dos regimes, ou do regime cambial monetário está associada à exatamente a compreensão do que seja moeda? Então se a gente observar na história das economias modernas nós vamos encontrar diversos bens, diversas commodities que serviram de moeda ao longo do tempo. Mas vamos já pensar no contexto moderno, que é esse o nosso objetivo aqui. Nesse contexto mais moderno que basicamente se instituiu deste ponto de vista que eu estou chamando atenção aqui, a partir dos anos 70 nós observamos na estrutura do sistema de pagamentos internacional uma mudança muito relevante que foi marcada pela quebra dos acordos de Bretton Woods no início dos anos 70, 71 à 73, que a relação entre as moedas internacionais deixou de ter uma paridade fixa e o dólar deixou de ter lastro ouro como era o arranjo do sistema de Bretton Woods que vigorou a partir da Segunda Guerra Mundial. Pois bem. Com a finalização desse arranjo, com a quebra desses acordos de forma unilateral por parte dos Estados Unidos nós temos que há a necessidade de se estabelecer no sistema de pagamento internacional novo arranjo. E esse novo arranjo, ele foi sendo estabelecido termos de paridades flexíveis, de relação entre moedas que podiam mudar ao longo do tempo. Então os países começaram a adotar regimes de câmbio flexível. E eu estou falando isso exatamente porque neste contexto, quando as moedas internacionais, as moedas domésticas e conversíveis internacionalmente perdem a sua referência relação ao ouro, perdem o seu lastro, nós entramos num contexto do que nós chamamos de moeda fiduciária. A moeda fiduciária ela existiu também outros contextos na história econômica, principalmente relação à moedas que eram de circulação restrita, por exemplo, na Idade Média, nos feudos. Os reis emitiam as suas próprias moedas que tinha a circulação restrita naquela região geográfica definida pelo feudo. Então sempre ouve aí a coexistência ao longo da história de moedas lastreadas, ou moedas metálicas e moedas fiduciárias. Ao longo do tempo houve o predomínio da moeda lastreada com padrão ouro e depois com o sistema de Bretton Woods, e com a quebra desse sistema no início dos anos 70 começou então o predomínio da existência de moedas puramente fiduciárias, moedas baseadas na confiança. E a moeda basicamente, qualquer que seja a estrutura de pagamentos de uma economia, ou internacional, ela tem papel fundamental. Qual é esse papel? O que que define ativo, ou uma commodity como moeda? Basicamente é a característica de ser o meio de troca daquela sociedade, ou daquela economia. É ativo financeiro, ou uma commodity, ela é aceita para pagamento de transações na economia. O que significa que ela é por excelência o meio de troca na economia. Então para ser moeda, necessariamente, o ativo financeiro ou a commodity precisa realizar esse papel, ser o meio de troca na economia e ativo financeiro é meio de troca na economia quando ele tem aquilo que nós chamamos de poder liberatório. Poder liberatório é a capacidade de quitar transações. Significa simplesmente isso. Fez uma transação, utilizou moeda para pagamento, a transação está finalizada, ela foi quitada, ela foi saldada. Então poder liberatório é a capacidade de saldar transações. Vou dar exemplo bem prático e simples. Quando nós vamos à padaria e compramos o pãozinho de todo dia e pagamos com nosso cartão de débito. Nosso cartão de débito significa o quê? Montante de recursos que está disponível na nossa conta corrente. Esse montante de recursos é moeda. Por que que é moeda? Porque uma vez utilizada a transação está saldada. Ou seja, paguei com meu cartão de débito ou com a moeda que está na minha carteira, no meu bolso, a moeda papel-moeda, ou as moedas metálicas, as moedas propriamente ditas, utilizei qualquer uma dessas duas fontes e quitei a transação. O que aconteceria se eu tivesse utilizado o meu cartão de crédito para fazer o pagamento? Bom, aí seria bastante diferente, por quê? A transação ela estaria quitada entre mim e o dono da padaria, mas não estaria quitada, não estaria saldada entre a gestora do cartão de crédito e mim. Então nós estamos aí o uso de instrumento financeiro que não saudou a transação, portanto não é moeda. Ou seja, cartão de crédito não é moeda. O único ativo financeiro capaz de realizar este feito, saldar as transações, é exatamente a moeda aceita como meio de troca numa economia. Então ser meio de troca é a característica fundamental da moeda. Decorrência de ser meio de troca, ela também passa naturalmente a ser usada como unidade de conta. Ou seja, todos os bens e serviços passam a ser cotados moeda, seus preços são expressos moeda. E além disso, a moeda também pode ser uma reserva de valor de forma imperfeita, o que significa que ela pode transportar valor no tempo, obviamente não de forma perfeita, por quê? Porque se houver inflação e se os preços dos bens e serviços se elevar ao longo desse período o poder de compra da moeda cai e portanto 100 reais hoje não compram o mesmo conjunto de bens e serviços que comparão daqui a ano. Esse é o efeito da inflação sobre o poder de compra, sobre o valor real da moeda. Então esclarecido esse ponto inicial nós estamos falando basicamente de moedas fiduciárias. As moedas fiduciárias então tem o seu valor baseado quê? O que que determina, o que garante o valor de uma moeda fiduciária? A confiança. Então é muito importante que o governo escolha e comunique claramente para a sociedade quais são os regimes por meio dos quais ele vai atuar. Que a sociedade reconheça e legitime esses regimes por meio das suas escolhas sociedades democráticas votando, para que esses regimes se institucionalizem e fiquem cada vez mais pertencentes à história dessa sociedade. Ou seja, não mudem toda hora. Regime que muda a cada eleição não se institucionaliza, não ganha força, ele não ganha credibilidade e, portanto, a confiança diminui. E especificamente relação ao regime monetário, isto é extremamente relevante porque é a manutenção desse regime, a clareza com que o governo gerencia o regime, a comunicação do governo sobre a sua gestão para o público e a compreensão do público de que o regime está sendo conduzido conforme indicado e anunciado previamente, é aquilo que vai dar credibilidade e vai reforçar, que vai produzir o valor da moeda doméstica já que ela não tem nenhum lastro. Então nesse sentido é muito importante entendermos como se forma esta conexão entre a escolha de regimes e a produção de confiabilidade, de credibilidade por parte do governo, relação ao seu compromisso com o público, com a sociedade, de que a inflação estará estável no futuro. Então a moeda ela tem o seu valor e ganha credibilidade quanto mais os agentes acreditem que o Banco Central, braço executivo do governo, irá gerenciar a política monetária de tal forma a garantir a estabilidade de preços no contexto de regime de metas de inflação. 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