[MÚSICA] Olá. Gostaria de desejar as boas-vindas a quarta semana do curso Sistemas e Tecnologias de Informação Digitais nas Organizações. Nesta semana chegamos no capítulo final da história da evolução dos negócios digitais, pelo menos até agora. E discutiremos o papel das tecnologias digitais mais recentes, também conhecidas como tecnologias digitais emergentes e seus impactos para as empresas e seus modelos de negócio. Nossas primeiras aulas serão sobre os aplicativos móveis e as plataformas multilaterais digitais, que na verdade são uma ligação entre os assuntos e momentos que já tratamos, os sistemas de informação empresariais, o comércio eletrônico e a web 2.0 e também as novas tecnologias digitais das décadas de 2010 e 2020. Começando no final da década de 2010 e seguindo adiante presenciamos a evolução das tecnologias móveis, principalmente os celulares, para cada vez mais incorporarem as possibilidades de conexão aos sistemas digitais, cuminando no lançamento dos smartphones, tal como o iPhone sendo principal ícone disso, lançado 2007. Presenciamos também a evolução das ofertas e possibilidades da computação nuvem, com serviços tais como a AWS, Amazon Web Services, lançado 2006, e o Microsoft Azure, lançado 2008, que proporcionaram plataformas para o desenvolvimento de sistemas e softwares de maneira flexível e escalável e que foi a base para que muitas empresas iniciantes, as startups, criassem e transformassem os aplicativos móveis novo momento da transformação digital. No meu modelo da evolução dos negócios digitais, isso é indicado pela segunda seta curva, mostrando a passagem das empresas de comércio eletrônico para as chamadas empresas digitais, que eu também costumo chamar de empresas aplicativo. Como falamos anteriormente, o termo empresa digital não é novo e representa aquelas empresas que buscam utilizar ao máximo a tecnologia disponível no momento para gerar valor por meio de planejamento e estratégias coerentes com seus objetivos. Chamo as empresas digitais da atualidade também de empresa aplicativo, porque muitas delas foram criadas com essa característica. São empresas que não possuem uma loja física, o contato com elas é realizado por meio de website, aplicativo no smartphone. Sim, as empresas de comércio eletrônico criados na etapa anterior também faziam isso, claro, mas as empresas digitais, ou empresa aplicativo da terceira geração da transformação digital tem aspectos que vão além disso, principalmente relação à responsividade ao cliente, a preocupação de reduzir os tempos de espera de atendimento e a capacidade de utilizar o contexto do consumidor, ou seja, sua localização, suas preferências, entre outros, para tornar o serviço mais transparente e o menos intrusivo possível. Dos itens do contexto está ligado a possibilidade de obter a geolocalização do consumidor por meio dos dispositivos GPS instalados nos smartphones, ou seja, identificar que local físico o consumidor se encontra no momento de sua interação com o aplicativo. A empresa de consultoria Forrester criou no início dos anos 2010 o termo mobile moment, ou momento móvel. Momento móvel seria ponto no tempo e espaço quando alguém tira do bolso o dispositivo móvel para obter o que deseja imediatamente no seu contexto. Isso mudou tudo de novo, pois mesclou a fronteira entre o ambiente físico, ou seja, o local do cliente e o ambiente virtual, o aplicativo e deu espaço para a criação de novas possibilidades para o marketing e para novos modelos de negócio. A ideia do marketing baseado na localização de dispositivos móveis já existia anteriormente e vinha sendo explorada com base nos usos de mensagens SMS, ou ainda mensagens por Bluetooth para os celulares de pessoas que transitavam próximos de lojas ou restaurantes. Mas esse modo tinha uma característica push, ou seja, as mensagens eram empurradas e eram por vezes invasivas e não desejadas. A nova possibilidade trazida pelo smartphone com GPS era o marketing pool, ou seja, puxado, demandado pelo consumidor seu local naquele momento. Ao entrar mapa e perguntar por restaurantes, o consumidor consegue localizar os mais próximos. Isso, que na atualidade é muito comum com o Google Maps, por exemplo, tem que fazer parte da estratégia de marketing das empresas de comércio e serviços, principalmente e começava a ser desenvolvido e aprimorado naquele momento, no início dos anos 2010. No momento atual esse desenvolvimento passa pela ideia da realidade aumentada, que ao filmar local com a câmera do celular são super postas as imagens, letreiros digitais, informações sobre os produtos e serviços disponíveis nos edifícios e endereços sendo visualizados. Mas o momento móvel mudou tudo também por conta da mudança na expectativa dos consumidores, que passaram então a esperar esse atendimento de suas demandas, sejam respostas às suas perguntas sobre produtos ou serviços no local que estiverem naquele exato momento. Segundo Ted Schadler e seus colegas consultores da Forrester e coautores do livro The Mobile Mind Shift, de 2014, a estratégia das empresas passou então a ser focada na exploração desse momento móvel, que seria para eles novo campo de batalha pelos clientes das organizações. Está aí a essência do que eu chamo de empresas aplicativo, da terceira onda da transformação digital. São as empresas que atuam nesse espaço de batalha, não porque queiram, necessariamente, como estamos observando, mas pode não ser uma alternativa não competir nesse espaço. Relação aos smartphones e aplicativos móveis, há aspecto paradoxal que eu gostaria de discutir aqui, com pano de fundo na discussão sobre as tecnologias digitais e inovação modelos de negócios. Há reconhecidamente na atualidade problema de saúde ligado ao uso dos smartphones. Basicamente o uso causa dependência e isso já está bastante documentado. Além disso, o smartphone absorve a pessoa do seu contexto externo, ao mesmo tempo que fornece contexto para que os modelos de negócio possam se adaptar às necessidades do cliente, ele também retira o cliente desse próprio contexto. Para David Rose, autor do livro Enchanted Objects, sobre design e interfaces com sistemas digitais por meio da internet das coisas, o smartphone é dispositivo confuso e entulhado de funcionalidades, tal como se fosse canivete suíço digital. Segundo o autor, ele é incômodo de usar, nos interrompe a todo momento e ele é intrusivo e mal educado. E além disso, é companheiro ciumento e que nos transformam zumbis de cara azul. Sherry Turkle, psicóloga e pesquisadora do MIT estudou o impacto das tecnologias de comunicação digitais nos comportamentos desde os anos 80 e discutiu seu livro Alone Together: Why We Expect More from Technology and Less from Each Other, de 2011, e neste livro ela estudou mais de 450 pessoas ao longo de 15 anos, ela discutiu essa questão paradoxal do distanciamento trazido por essas tecnologias. Segundo uma pesquisa citada pela autora, verificou-se que quando duas pessoas almoçam juntas e tem seus celulares sobre a mesa ligados a conversação tende a ser sobre temas mais superficiais e rápidos e elas se sentem menos interessadas uma na outra. É perturbador isso, não? Mas isso não precisa ser necessariamente assim. Embora o momento móvel esteja muito associado ao smartphone e seus aplicativos, a ideia da computação ubíqua, ou seja, amplamente distribuída pelo ambiente, por vezes até de maneira invisível e totalmente interconectada, foi inicialmente proposta pelo pesquisador do MIT, Mark Weiser, seu artigo seminal sobre o assunto 1990. Segundo ele, as tecnologias que causam as maiores transformações são aquelas que desaparecem, ou seja, estão tão integradas ao ambiente, ao contexto, do seu uso que elas se tornam imperceptíveis, embora sejam fundamentais. Para tentar entender o que seria essa visão, eu sugiro o vídeo A Day Made of Glass, de 2011, realizada pela Dow Corning, para propor uma visão do futuro onde o vidro teria possibilidade de se transformar também numa interface com aplicativos nuvem. É uma visão muito interessante que nos libertaria da prisão cognitiva dos smartphones. Os dispositivos conectados à internet apresentados nesse vídeo, tais como o espelho do banheiro, o fogão, geladeira, automóvel, o ponto de ônibus, a mesa do escritório, são uma aplicação das possibilidades da internet das coisas, que também discutiremos nas aulas desta semana. Eu acredito muito ser uma avenida para as empresas inovadoras a exploração dos serviços que não usem o smartphone como principal meio de comunicação com seus consumidores. Acho que o grande sucesso dos smartphones, dos aplicativos, acabou ofuscando ainda que temporariamente, algumas potenciais alternativas mais ricas termos de manter o contexto do usuário menos intrusivas. Vamos falar disso mais adiante. Coloquei o link para o vídeo da Dow Corning nos materiais dessa aula. Encerramos por aqui, então, nossa primeira aula sobre as novas tecnologias digitais das décadas de 2010 e 2020. [MÚSICA]