[MÚSICA] [MÚSICA] No caso de alguns vírus, como o vírus da varíola ou poliovírus, que são vírus exclusivamente humanos, a nossa vacinação pode acabar completamente com a circulação da doença. Esse, inclusive, foi o caso da varíola, que é o primeiro vírus que extinguímos propositalmente e por isso a gente não precisa mais ser vacinado contra ela. Já no caso da febre amarela, como o vírus também circula entre outros primatas, a gente não tem como impedir a circulação do vírus completamente mesmo com as vacinas a não ser que esses animais sejam extintos, o que não é nada razoável. Então, a gente ainda depende de campanhas ativas de vacina contra a febre amarela para poder manter o vírus sob controle, circulando só no ciclo silvestre. A vacinação não só é importante para manter o vírus afastado, como também pode funcionar mesmo surtos sérios que já estão acontecendo. 2008, por exemplo, Assunção no Paraguai teve surto urbano da doença, o primeiro surto urbano na América do Sul desde 1942, mas que foi controlado com a vacinação de cerca de 1 milhão de pessoas, além do controle do vetor, que é o combate ao mosquito. Essa vacina começou a ser desenvolvida ainda durante a década de 1930. A princípio, a gente chegou a ter duas versões vacinais: uma que foi desenvolvida pela Fundação Rockefeller, nos Estados Unidos, que era aplicada por injeção, e outra que foi desenvolvida no Instituto Pasteur francês, que era aplicada por escarificação, que, ao contrário da injeção, é processo onde a agulha só arranha a pele e faz o inóculo na ferida que acontece logo ali onde ela é arranhada. As duas vacinas tinham o mesmo problema, no entanto, ocasionalmente o vírus atenuado causava reações adversas com a infecção do sistema nervoso ou encefalite. Mas depois de cultivar o vírus da linhagem americana ovos embrionados, a gente conseguiu chegar uma linhagem mais segura, chamada 17D, que foi tão bem adaptada a células de aves, que mesmo quando ela é inoculada no cérebro de camundongos, que é tecido super vulnerável, ela não matava os animais, então é mais segura para mamífero. Por causa dos casos de encefalite vacinados, a linhagem francesa acabou sendo descontinuada, enquanto a linhagem 17D americana foi escolhida para ser usada e aprimorada para a produção das vacinas que a gente usa até hoje. Atualmente, a gente duas sub-linhagens derivadas dela e usadas para a produção de vacinas: a 17D-204 e a 17DD, que usamos aqui no Brasil para produção de vacinas na Bio-Manguinhos do Rio de Janeiro. Essa vacina ainda é cultivada ovos e por isso a gente tem que se preocupar quando vai vacinar pessoas com hipersensibilidade a ovos. E mesmo com essas novas linhagens, a gente diminuiu muito o risco de complicações sérias, mas a vacina ainda pode despertar reações adversas, principalmente campanhas de vacinação massa, que atingem muitas pessoas. Nesses casos, os maiores problemas são com adultos sem imunidades prévias, já que o risco de complicações com a vacina aumenta com a idade, e especial depois dos 60 anos de idade. Por isso o uso ainda é restrito a regiões de risco e nos casos de viajantes que vão para esses locais. Uma das complicações é a doença neurotrópica, que é causada quando o vírus vacinal consegue se replicar no vacinado e infecta o sistema nervoso central. Uma coisa que acontece menos de uma vez a cada 100 mil doses administradas. Essa complicação acontecia principalmente entre crianças com até sete meses de idade, e por isso a idade para a primeira dose vacinal passou a ser de nove meses de idade. Outra complicação é a complicação visceral, também chamada de doença viscerotrópica aguda, que acontece quando o vírus atinge os órgão internos e pode causar choque, derrame pleural e abdominal, falência múltipla de órgãos e tem alta letalidade, mas essa reação é bastante rara e até o final de 2007 só tivemos oito casos de complicações dessa no Brasil. O acompanhamento dos vírus encontrados nos pacientes que tiveram essas complicações não mostra mutações no vírus ou qualquer fator no vírus que explique essa reação, o que sugere que ela depende muito mais da reação imune dos vacinados do que da vacina si. A OMS recomenda uma dose ao longo da vida, mas aqui no Brasil nós aplicamos duas. Áreas endêmicas, onde tem risco maior de febre amarela, uma dose é dada aos nove meses de idade e outra aos quatro anos, enquanto adultos essas doses tem intervalo de dez anos entre elas. Essa barreira que é imposta pela vacinação ainda é o nosso maior impedimento para a doença e o índice de imunização de uma região ainda é dos maiores explicadores para como a doença está contida por lá. O mesmo acontece na África. Nos países do oeste africano, que adotaram uma vacinação massa, os surtos de febre amarela foram muito controlados. E, infelizmente, para as outras viroses que a gente vai explicar por aqui, a gente ainda não consegue ter a mesma solução ou uma solução tão eficiente. [MÚSICA] [MÚSICA]