[MÚSICA] [MÚSICA] Até agora nós falamos sobre os flavivírus, já que eles foram os primeiros vírus que identificamos como transmitidos por artrópodes e por conta do número de infecções que eles causam todos os anos. Mas ainda existem outros vírus que também são transmitidos pelo Aedes aegypti e aqui nós vamos falar do mais importante deles no Brasil, que é o Chikungunya. Segundo os próprios pesquisadores que acompanham a doença Chikungunya, nós sabemos as condições ambientais necessárias para causar surto, como é o caso das chuvas e da presença dos mosquitos Aedes. Logo, os surtos de dengue e de Chikungunya seriam previsíveis meses antes de acontecer, e por isso mesmo as mortes resultantes dessas doenças poderiam ser quase completamente previnidas. Apesar desse conhecimento e dos esforços de saúde pública nacionais, ainda tivemos grandes surtos de dengue e muito severos anos recentes, e o preço que nós pagamos foi maior ainda, porque além da dengue ainda deixamos condições para a entrada de outros arbovírus aqui no Brasil, incluindo que causa sintomas bem mais severos e bem mais debilitantes do que a dengue. O Chikungunya foi mais vírus de primatas transmitido por mosquitos que foi isolado durante a década de 50. Na África, que ainda é tido como o continente de origem desse vírus, ele ainda circula entre primatas não humanos como os macacos, entre morcegos, e é transmitido por mosquitos Aedes selvagens. Humanos, foi isolado entre 1952 e 1953 na divisa entre Moçambique e a atual Tanzânia, no Plateau de Makonde, no que se imaginava na época ser surto de dengue. Desse isolamento já podemos deduzir que os sintomas e os modos de transmissão são parecidos entre as duas doenças, mas as dores musculares e as dores nas juntas causadas pelo Chikungunya foram muito mais intensas, tanto que o nome Chikungunya vem do verbo "cunguniata" para "aquele que se contorce" ou "andar curvado", na língua maconde. O primeiro surto conhecido na Ásia aconteceu pouco depois, nas Filipinas, 1954. Desde então, vários surtos aconteceram na África e na Ásia, geralmente surtos curtos e limitados e geralmente regiões rurais, pelo menos na África, depois de períodos de chuva intensos. Mas parte desses ciclos eram urbanos, o que mostrava desde lá a possibilidade do vírus se estabelecer na circulação exclusivamente entre humanos. Por cerca de 30 anos, o Chikungunya circulou fora do nosso radar, sem ser detectado até surto de 2004 que começou no Quênia e acabou se espalhando por muito mais do que lá. 2005, a Ilha de Reunión registrou pelo menos 266 mil casos de Chikungunya uma população na época de 770 mil habitantes. Ao que tudo indica, nesse caso foi transmitido pelo Aedes albopictus, e no ano seguinte o vírus chegou até a Índia, onde entre 2006 e 2003 aconteceram entre três e seis milhões e meio de casos. Essa epidemia continuou até 2013 e acabou se espalhando pela Ásia e pelas Ilhas do Oceano Índico. O intervalo entre as epidemias sugere que, além dos fatores ecológicos, também é preciso ter número crítico de pessoas que nunca foram infectadas pelo vírus e, portanto, não são imunes a ele. Nessa mesma linha, os infectados novas epidemias locais onde já acontece Chikungunya tendem a ser os mais novos, ou seja, as crianças que nasceram depois do último surto. Mas mesmo Reunión, onde cerca de 40% da população já era imune contra o vírus, depois do surto de 2005, o Chikungunya ainda conseguiu circular anos posteriores, ou seja, essa imunidade protege algumas pessoas mas não impede os surtos. O Chikungunya é uma preocupação mundial, parte pelas passagens que ele teve pela Europa inclusive, graças ao estabelecimento do mosquito vetor Aedes albopictus no Mediterrâneo. Ainda vamos ver o por que disso. A Itália sozinha teve mais de 200 casos 2007 e a França teve alguns casos 2010, 2014 e até agosto de 2017. E outros países como Suíça, Alemanha, Bélgica e Inglaterra também registraram casos, mas nesses casos foram trazidos por turistas que voltavam de regiões com surtos, ou seja, esses países não tiveram uma circulação local do vírus. No final de 2013, o inevitável aconteceu por aqui. O vírus começou a dar sinais de ter dado a volta no globo através da Oceania e o primeiro surto ocidental de Chikungunya foi registrado na Ilha de Saint Martin, na América Central, e o vírus conseguiu se estabelecer nas Américas desde então. Os nossos primeiros casos no Brasil foram detectados setembro de 2014 Oiapoque, no Amapá, e Feira de Santana, na Bahia. E ainda 2014 tivemos 2772 casos. No ano seguinte, o número de casos prováveis já cresceu para 38.332. E 2016 tivemos 277.882 casos com 90 mortes confirmadas, ocorridas principalmente no Nordeste do país, com mais de 40 por cento das municipalidades do Brasil atingidas pela doença. Já 2017, apesar de serem proporcionalmente menos casos no período, ainda tivemos 167 mil casos até agosto, concentrados principalmente no Nordeste, ou seja, o Chikungunya conseguiu se estabelecer muito bem por aqui. [MÚSICA] [MÚSICA] [MÚSICA]