[MÚSICA] [MÚSICA] [MÚSICA] Você já pode ter reparado que infecções virais geralmente não têm tratamento direto e muitos casos de viroses o tratamento que a gente tem é ficar de cama e os medicamentos que se toma, geralmente, tratam os sintomas da virose, mas não a doença si. O motivo para isso é bem simples: a forma como os vírus funcionam, que é o que veremos nessa aula. Não vamos explicar aqui toda a biologia básica do que são os seres vivos ou como são formadas as células, mas sim relembrar algumas propriedades dos seres vivos para poder contrastar isso com os vírus e entender como eles são diferentes dos seres vivos e, principalmente, porque que os seres vírus causam as doenças que causam. Todos os seres vivos são formados por células, que têm uma série de propriedades e estruturas comum, como as que estão marcadas aqui, que os vírus não têm. Por isso, os vírus não são considerados seres vivos. Nós não veremos todas essas estruturas, nem o que elas fazem, mas sim quais são as mais importantes para podermos diferenciar os seres vivos dos vírus. Todas as células têm, por exemplo, genoma formado por DNA, enquanto muito vírus podem ter genoma de RNA ou mesmo uma mistura de RNA e DNA. Algumas células são procariontes e não tem núcleo, por isso o genoma de DNA delas fica no citoplasma, como é o caso das bactérias. Outras células, como as nossas, são eucariontes, ou seja, elas têm núcleo dentro do qual fica o genoma. Independente de qual tipo de célula, todas elas têm estruturas chamadas ribossomos, que são estruturas que sintetizam proteínas, o que quer dizer que as células são capazes de metabolismo próprio como produzir energia, produzir e recuperar a membrana celular, que separa a célula do meio externo e outras funções próximas. Já os vírus são muito mais simples do que isso. Todos os vírus são formados por uma cápsula de proteína, chamada de capsídeo, que pode ter vários formatos, dependendo da espécie do vírus. Dentro desse capsídeo, fica material genético, que no caso do HIV, que nós vemos desenhado aqui, é feito de RNA. Alguns casos, como é o caso do HIV e da maior parte dos vírus que vamos estudar no curso, eles podem ter uma membrana de lipídios por fora do capsídeo, chamada de envelope, que geralmente é formada pela membrana da célula de onde eles brotaram e ajuda a esconder o vírus do sistema imune e ainda pode facilitar e entrada dele nas próximas células. Os vírus não têm ribossomos, mitocôndria ou qualquer outra estrutura celular que permite o metabolismo, o que quer dizer que os vírus não produzem a própria energia, nem as próprias proteínas e dependem sempre completamente das células que eles invadem para isso. Por isso eles são chamados de parasitas intracelulares obrigatórios, já que precisam das células para poder se reproduzir, o que pode parecer uma deficiência deles, mas como a gente ainda vai ver, esse é dos principais motivos para ser tão difícil de combater doenças virais. Além de tudo, os vírus geralmente são muito menores do que as células que eles invadem. Uma célula intestinal, por exemplo, como essa da figura, que não está escala, pode ter 35 micrômetros, ou seja, 35 milionésimos de metro, enquanto o vírus da poliomielite que invade essa célula tem 30 nanômetros, ou seja, ele é pelo menos 1000 vezes menor do que a célular que invade. Essa diferença é mais ou menos o equivalente a vírus do tamanho de uma bora de futebol ser capaz de invadir uma célula com o tamanho do estádio do Maracanã e, no caso do vírus da Pólio, quatro a seis horas depois, romper essa célula tendo produzido mais de 100 mil partículas virais. Bastante eficiência para organismo tão simples. Para serem tão eficiente, os vírus dependem de uma reprodução que nós chamamos de replicação viral. Enquanto célula normalmente se reproduz por divisão, ou seja, uma célula se divide duas, os vírus usam as células para produzir muito mais partículas virais, como se fosse uma linha industrial. E essa invasão segue algumas etapas bem definidas. Aqui, nós estamos vendo como exemplo o ciclo infeccioso do vírus da gripe, o Influenza. Alguns vírus podem pular algumas dessas etapas ou têm ciclo mais elaborado, mas os princípios básicos são os mesmos, daí o exemplo tão bem estudado. A infecção começa com a ligação do vírus na célula, ou o vírion, o nome que a gente dá para a partícula viral individual. E, geralmente, envolve receptor, que é uma proteína ou alguma outra molécula que o vírus reconhece na superfície da célula e usa para se ligar e entrar. Essa molécula de ligação, que nós chamamos de receptor, não estava lá para isso, não é como se nós tivéssemos moléculas feitas para serem reconhecidas pelos vírus. Eles, na verdade, aproveitam uma molécula que faz outra função no nosso corpo, como comunicação dentro do corpo, comunicação entre as células e usam isso para invasão. Por isso chamamos essa molécula de receptor. E essa é uma das etapas mais importantes para a gente determinar que tipo de célula que os vírus conseguem invadir. O influenza aviário, por exemplo, tem bastante dificuldade de entrar no corpo de seres humanos, parte, porque as células do nosso sistema respiratório que ele encontra não têm os receptores que ele usa para entrar nas células das aves, por exemplo. Seguida, nós temos a entrada do vírus na célula, que pode acontecer de várias formas. Alguns vírus fundem o envelope que eles têm com a membrana da célula e, com isso, conseguem entrar. Alguns outros pulam essa etapa completamente e saltam direto de uma célula para outra. Outros, como é o caso da influenza e do vírus da dengue, conseguem induzir a célula a colocar eles para dentro, formando uma bolsa de membrana celular, que nós chamamos de endossomo. Uma vez dentro da célula, acontece o que a gente chama de desempacotamento do vírus, que é quando ele sai do endossomo e libera o material genético próprio e começa a se replicar. Geralmente, os vírus de RNA carregam o que precisam para se replicar e fazem a replicação no próprio citoplasma da célula, como é o caso do vírus da dengue. E vírus de DNA podem usar as nossas proteínas para replicar, então eles fazem isso no núcleo da célula. Mas claro que existem exceções para todas essas regras. Como o influenza que estamos vendo aqui, que apesar de ser vírus de RNA, empacota no citoplasma da célula, mas ele manda o próprio material genético para o núcleo. No núcleo da célula, acontecem os passos de replicar o material genético, ou seja, copiar ele muitas vezes e produzir o RNA mensageiro, que sai do núcleo e comanda a produção de proteínas virais, que depois vão formar o capsídeo. Algumas dessas proteínas virais continuam dentro da célula, outras são exportadas para a membrana dela para formarem o envelope viral. E o material genético formado no núcleo, agora pode interagir com essas proteínas, que formam o capsídeo viral que estão no citoplasma, formando a partícula viral, processo que a gente chama de empacotamento viral. No caso do influenza, que nós vemos aqui, o empacotamento acontece na membrana da célula. No caso do vírus da dengue, esse empacotamento acontece ainda dentro do citoplasma. Esse último estágio é o brotamento da partícula viral para fora da célula, que agora podem infectar as próximas células. Os ciclos de replicação viral podem ser bem mais diversos e bem mais complicados do que isso que a gente viu aqui, ainda mais no caso de vírus que não causam doenças humanas, que são a maioria deles no ambiente. Mas todos eles têm uma coisa comum: todos dependem de uma célula para poder se replicar. [MÚSICA] [MÚSICA]