[MÚSICA] [MÚSICA] O Aedes aegypti é dos animais que ficaram famosos e ganharam o mundo graças à humanidade. Ele é o que nós chamamos de animal sinantropo, ou seja, uma animal que evoluiu junto de nós, ainda que involuntariamente. Dos organismos que conseguiu se adaptar às mudanças que a humanidade provocou nesse tempo e que, com isso, ganhou esse ingresso para poder rodar o mundo com acolhimento e refeição garantida por nós, mesmo que sem querer. Várias outras espécies generalistas como as baratas, os ratos, pardais e pombos, conseguem conviver vários tipos de ambientes e também passaram por esse processo de domesticação involuntária, e acabaram se dando muito bem convivendo conosco. No caso do Aedes aegypti, temos uma boa noção de como que esse processo começou. Na África subsaariana nós ainda encontramos ancestral selvagem dele, a subespécie Aedes aegypti formosus, que ainda se reproduz principalmente buracos de troncos de árvores, na natureza, na mata, e prefere picar animais selvagens. Ela é pouco mais escura do que o Aedes aegypti urbanizado que oficialmente, a gente não falou isso até aqui, se chama Aedes aegypti aegypti. Algum momento da história desse mosquito, o mosquito selvagem começou a conviver mais próximo de centros urbanos e passou a ter uma preferência pelo sangue humano, o que provavelmente aconteceu há alguns milhares de anos. Essa transição entre ele viver ambiente silvestre e se alimentar de outros animais para o convívio mais próximo de nós pode ter uma série de motivos, mas a gente pode imaginar, com base alguns hábitos do mosquito atual domesticado, como isso aconteceu. No mediterrâneo, no norte da África e no Oriente Médio, era comum encontrar uma forma de Aedes aegypti doméstico, que vivia e se reproduzia dentro das casas. Esse mosquito é mais raro atualmente, depois que adotamos a água encanada e saneamento básico, porque as pessoas deixaram de acumular e estocar água vasos e potes dentro das casas onde ele se reproduzia. Além da convivência e desse sítio de reprodução alterado, o mosquito domesticado também mudou a preferência por alimentação e passou a procurar pelo odor humano mais do que o odor de outros animais. Afinal, convivendo com humanos, agora ele tinha uma fonte de alimento constante à sua disposição. Aqui no Brasil, o melhor registro que nós temos de como o Aedes aegypti chegou é a navegação por caravelas dos europeus, que trouxeram pessoas escravizadas e também trouxeram o mosquito da África para cá. Junto deles, como já falamos no vídeo de febre amarela, também trouxemos vírus e outros parasitas infecciosos que ainda circulam até hoje por aqui. No oeste da África, de onde veio a maior parte do tráfico de pessoas, não encontramos mais o Aedes selvagem hoje dia. Então nós não sabemos se ele acontecia na região e foi extinto, se ele se urbanizou por lá, ou se ele já veio através da Europa diretamente para cá. Assim que o mosquito chegou nas Américas, ajudou a causar os primeiros surtos de febre amarela, como o surto de Yucatán, no México, 1648. Inicialmente, por causa desse tipo de associação, ele foi conhecido como Mosquito da Febre Amarela, quando a gente se deu conta de que ele era dos responsáveis pela transmissão da febre amarela. Hoje ele já é mais conhecido como o transmissor da dengue, e mais recentemente também passou a transmitir Zika e Chikungunya. Pela análise genética dos mosquitos, nós sabemos que o mosquito aqui das Américas foi parar na Oceania e para a Ásia toda, fazendo mais ou menos o caminho inverso dos vírus que nós tratamos nas aulas anteriores. Ele parece ter chego na Ásia no final do século XIX e levou também a dengue para lá. Também não sabemos por que ele não levou a febre amarela para a Ásia como ele trouxe para cá da África. O mosquito também chegou a colonizar o mediterrâneo europeu, mas lá ele foi extinto ao mesmo tempo que aconteceu a adoção da água encanada por lá. Baseado na temperatura, regime de chuvas e urbanização ao redor do mundo, temos mapas como este aqui, que mostra as regiões ocupadas ou com potencial de ocupação pelo Aedes aegypti, que vão de azul, onde é muito improvável que ele ocorra, até o vermelho, onde é praticamente garantida a sua presença. Com esse mapa a gente pode ver que as maiores concentrações do mosquito acontecem regiões tropicais e subtropicais úmidas, e tem muito pouca chance dele acontecer maiores latitudes do Hemisfério Norte, com exceção da Flórida, nos Estados Unidos. Com a conscientização sobre o papel do mosquito na transmissão das doenças, passou a ser criado programa de combate ao Aedes nas Américas, que foi muito fortalecido 1946. Esse combate era muito baseado no uso de inseticidas e larvicidas para matar os mosquitos e impedir a ocupação de novas residências, e esse combate fez progresso muito grande durante os primeiros 30 anos. Alguns países, como a Argentina e os Estados Unidos, não conseguiram erradicar o Aedes aegypti e pararam o programa desse jeito, outros países desistiram no meio da campanha, como foi o caso da Venezuela, mas o Brasil conseguiu se livrar do Aedes aegypti 1961. Nós chegamos a ficar livres dele até 1974, quando ele voltou trazendo a dengue e voltou resistente a uma série de inseticidas. Desde então, a gente continua nessa tarefa árdua do combate tentando matar adultos e larvas, e tentando impedir a formação dos locais de reprodução do mosquito. Por isso mesmo, veremos uma outra aula como acontece o ciclo reprodutivo dele e as formas de combate que nós temos. [MÚSICA] [MÚSICA]