[MÚSICA] [MÚSICA] Para entender como as doenças conseguem saltar de outros animais e se estabelecer e circular entre humanos, precisamos pensar no quê que nós fazemos que facilita esse contágio. As chances de uma doença conseguir saltar de outro hospedeiro para nós depende, por exemplo, do quão próximo é a nossa fisiologia da fisiologia do hospedeiro original. O vírus de planta, que depende de insetos que comem folhas, quase não vai ter oportunidade para poder saltar para humanos. Enquanto vírus que infectam chimpanzés e outros primatas, quando os infectam, encontram hospedeiro bastante parecido, porque nós nos separamos, evolutivamente, deles há poucos milhões de anos. Por isso mesmo, por mais que o nosso contato com o chimpanzé seja muito mais raro do que o contato com o tomate ou alface, a maioria das doenças emergentes vem de animais como os primatas, como é o caso do HIV, o vírus da Hepatite B e, talvez, o vírus Ebola, que saltaram de outros primatas para nós. Daí a importância de se monitorar, por exemplo, quais são os vírus que circulam regiões com caça intensiva de primatas. Assim, a gente se previne e sabe qual risco do que pode nos infectar, como foi o caso do Zika, por exemplo. Outro fator importante é o nosso tempo de convivência, a nossa proximidade com esses outros animais, como é o caso, por exemplo, com os roedores e com gado. Nós não somos tão próximos, evolutivamente, dos porcos, pelo menos, menos próximos do que dos primatas, mas como nós criamos porcos para a alimentação, eles convivem muito próximos de humanos. Então o vírus como o Influenza, que saltou de aves migratórias, como os patos, circulam porcos e também humanos. Do mesmo jeito que a melhor reconstrução que nós temos para a origem do vírus da varíola é que ele saltou de roedores como o Gerbil, que são animais que convivem próximos de humanos. O influenza aviário, ou H5N1, também está nessa situação. Ele não circula bem entre humanos, mas nós temos uma convivência constante com os patos e com as galinhas que podem contrair esse vírus. Por isso, situações como o mercado de aves da ásia, onde as pessoas convivem de maneira bem próxima com aves selvagens e com aves domésticas, são tão preocupantes. Outro ponto muito importante é o tamanho e a proximidade da população humana como todo. Até alguns milhares de anos atrás, a população humana era formada, principalmente, por grupos bem mais isolados e bem menores, como é o caso das tribos, que ainda acontecem alguns pontos do Acre, por exemplo. Nesses grupos pequenos, uma doença pode até entrar novos humanos, como caçador que se cortou preparando a carne de outro animal e pegou vírus dele, mas mesmo que a doença circule e até mate os membros desse grupo, ela tem poucas oportunidades de saltar para outros grupos humanos e fica contida só naquele ponto, naquela situação. Doenças infecciosas humanas que circulam uma situação dessas, dependem de uma estratégia de transmissão como a do vírus da Herpes humana, que passa por contato, contato de pele simples, e nos infecta pela vida toda. Só com uma infecção tão longa, ele consegue ter mais oportunidade de contágio e ter pessoas que estão muito isoladas. Mas com o surgimento da agricultura, nós passamos a conviver grupos muito maiores que ficam estacionados no mesmo ponto, quase pela vida toda, se não a vida toda. Então, uma doença infecciosa tem muito mais oportunidade de transmissão entre as pessoas que convivem assim próximas, mesmo se o intervalo de transmissão for tempo pequeno. Por isso, a maioria das doenças humanas, das doenças emergentes inclusive, apareceu nos últimos milhares de anos, como é o caso do vírus Influenza, da Varíola e do Sarampo. Esses vírus são vírus que não dependem de vetores e que causam infecções passageiras que duram até pouco tempo, mas que grandes populações, podem causar surtos bem sérios. E mais recentemente, com a urbanização humana, nós aumentamos ainda mais a nossa proximidade e a densidade das pessoas que convivem uma mesma região. E isso cria, é claro, ainda mais oportunidades de contágio, além de dar espaço ideal para populações de mosquitos, que se urbanizaram, e agora vivem próximos de nós e servem de vetores. Daí a circulação urbana recente de doenças como HIV, que não depende de vetores, e da Dengue, que depende de mosquitos. E por isso, inclusive, surtos de Dengue acontecem mais regiões mais pobres como favelas, onde a densidade de pessoas é maior e tem mais oportunidades ainda para o mosquito se replicar. E com os meios de transporte atuais, passamos dias, ou horas, dentro de navio, de carro ou de avião, e podemos descer do outro lado do mundo. Então hoje dia, mesmo que uma doença cause uma infecção de curta duração, como alguns dias, como é o caso da gripe, mesmo assim nesses poucos dias, ela pode viajar o mundo e conhecer novos hospedeiros. [MÚSICA] [MÚSICA] [MÚSICA]