[MÚSICA] [MÚSICA] 2015, registramos o primeiro surto de Zika no Brasil e dos primeiros no mundo. O que não sabíamos é que os casos já aconteciam há algum tempo e trariam novas consequências e agora veremos por que. O nome Zika vem a floresta de Zika, Uganda, onde o vírus foi isolado de macacos 1947. Além da África, eles também circulavam na Ásia; e essa separação de continentes, também é genética. Conhecemos duas linhagens de Zika, a Africana e a Asiática. Desde a descoberta, ele foi outro Arbovírus que circulava primatas, transmitido por mosquitos silvestres e, isoladamente, causava alguns casos humanos, mas sem circular entre nós. O primeiro caso humano de Zika de que temos conhecimento aconteceu 1964. Temos registro mais antigo da década de 50, que também é citado, mas parece ter sido causado por outro vírus próximo, o Spondweni. De 64 até o ano de 2007, tivemos poucos casos documentados de Zika humanos. Ao ponto que o estudo que fizemos mostrando a migração do Zika pela África, publicado 2014, usou, boa parte, sequências de vírus isolados de mosquitos e macacos. Afinal, era principalmente entre eles que circulavam. Não sabemos bem o evento específico que causou o salto para humanos, mas tomando a Dengue como base de comparação, a urbanização e a globalização com certeza tiveram parte. Além da urbanização do próprio mosquito Aedes. Já 2007 aconteceu algo novo, o primeiro surto humanos, nas ilhas Yap, na Micronésia; já bem distante da Ásia onde sabíamos que ele circulava. Como no Brasil, a Micronésia notou aumento repentino de casos de febre, dores de cabeça e dores no corpo. E, no começo, imaginaram que fossem casos de Dengue ou Chikungunya. Mas o vírus recuperado dos doentes foi o Zika. No final, foram confirmados 49 casos e 59 continuaram como suspeitos durante uma epidemia. Mas, retrospectivamente, testando a população para anticorpos contra o Zika, estima-se que pelo menos 70 por cento da população das ilhas foi infectada. Esse surto não só foi o primeiro fora da África e da Ásia, como foi o primeiro surto documentado e prelúdio do que ainda estava por vir. Mesmo assim, nenhum dos casos precisou de hospitalização, o que contribuiu para a imagem de que surto de Zika seria o equivalente a surto leve de Dengue. Outubro de 2013, o Zika voltou a aparecer, dessa vez, na Polinésia Francesa, surto diferente das ilhas Yap que aconteceu e acabou. Porque esse foi primeiro de uma sucessão de países atingidos ao longo da Oceania e até além. O vírus passou pelas ilhas Caledônia, ilhas Cook e chegou até a ilha de Páscoa. No total, foram 8.723 casos confirmados e cerca de 30 mil pessoas buscaram ajuda médica. Sinal claro do que o ZIka precisa para circular, e de algo que vimos no Brasil, é que, de novo, esse surto de Zika aconteceu ao mesmo tempo que surto de Dengue. Afinal, os dois vírus dependem das mesmas condições para se espalhar e usam, inclusive, o mesmo vetor. Isso também ajuda a entender como que o Zika vírus pode ter circulado despercebido até chegar na Polinésia Francesa. Como ele causa sintomas parecidos com os de Dengue, provavelmente, circulou por muitos locais com casos de Dengue que já estavam acontecendo, ou mesmo Chikungunya, e não foi notado por causar menos hospitalizações e ser confundido com eles. Menos hospitalizações, o que não quer dizer que não há complicações. Na Polinésia Francesa foram detectados 74 casos de complicações neurológicas, como: encefalite, meningoencefalite, paralisia fácil e mielite; entre os que tiveram Zika. Dos quais, 68 desenvolveram a síndrome de Guillain-Barré, que explicamos na aula de Dengue. Uma das manifestações do Zika passou despercebida. Complicações na gestação também aconteceram na Polinésia Francesa, mas elas só foram notadas 2015, depois que o Brasil registrou os casos de microcefalia e os agentes de saúde da Polinésia Francesa voltaram para avaliar os dados da epidemia de 2014. Eles tiveram total de 12 casos de má formação fetal, incluindo microcefalia. E ao contrário da Micronésia, os casos não pararam por lá dessa vez. Na época nós não sabíamos, mas o Zika estava repetindo o caminho que a Dengue e o Chikungunya fizeram antes. As três doenças circularam na África e na Ásia, causaram casos nas ilhas do pacífico e saltaram por lá até chegarem nas américas. Já aqui no Brasil, no começo de 2014, médicos natalenses começaram a registrar casos de febre com sintomas parecidos com os de Dengue, além da pele e olhos avermelhados. Mas, os exames sorológicos não confirmavam a suspeita de Dengue. Parvovírus, Dengue, Chikungunya, todos os vírus que esperávamos foram testados e deram resultado negativo. Era vírus novo. Os pacientes não paravam de chegar nos hospitais, Natal, e algumas cidades do interior do nordeste. Até Salvador começar a registrar casos março do mesmo ano. Abril, descobrimos por mais testes e por testes mais compreensivos, que a doença era causada pelo Zika. O que de certa forma foi até alívio na época, porque até então, afinal, a febre Zika mal era conhecida, ninguém tinha sido hospitalizado por conta dela e tudo indicava que seriam casos parecidos com os de Dengue, mas com sintomas mais leves. Tudo indicava, até descobrirmos uma nova manifestação do Zika gestantes. Quanto a sua origem, inicialmente, suspeitava-se que a copa do mundo de 2014 foi o evento que trouxe as pessoas infectadas com Zika para o Brasil. Mas não temos certeza de que o vírus que circulou aqui veio, diretamente, da Polinésia e talvez nunca tenhamos. Com o isolamento e o sequenciamento do genoma dos vírus que circulam por aqui, ao menos, podemos descobrir e reconstruir cenário mais completo da ordem dos eventos. O Zika circulava aqui no Brasil desde o final 2013, ou o começo de 2014, entre janeiro e fevereiro. E aqui na América Latina toda, ele circulou por mais de ano antes de ser detectado. E como dois grupos de pesquisa, diferentes, chegaram a mesma conclusão, essa mesma conclusão, temos bom sinal de que os resultados são bastante sólidos. Mas não precisamos nos ater a qual evento, ou qual região específica, foram e são responsáveis. Não só porque isso é uma coisa incerta, mas porque como a circulação da Dengue e do Chikungunya já mostraram muito bem, os mosquitos aqui, a vinda do Zika para cá, eram tanto inevitável depois de ele aparecer nas Américas. Tanto que depois que ele veio para o Brasil, circulou na América do Sul e pela América Central sem problemas. E aqui, entre nós, estabeleceu-se muito bem. 2016, foram mais de 216 mil casos prováveis de febre de vírus Zika no Brasil, com 8 mortes confirmadas. 2017, tivemos, proporcionalmente, bem menos casos para o período, 15.518, felizmente. Mas nem por isso devemos relaxar enquanto as vias para a circulação do vírus continuarem abertas. Por isso mesmo, vamos entender pouco mais sobre o Zika. [MÚSICA] [MÚSICA] [MÚSICA]